2. Diante do nascer do sol: Fé


O dia amanhecia com a relinchar agudo daquele garanhão, desde que o cavalo se perdeu da mãe quando era apenas um filhote passava todos os dias em frente á casa de Valentina, e ela acordava cedo para apreciar aquele valoroso animal, que era grande e majestoso. Ele tinha um corte em seu dorso que notavelmente deve ter se ferido. Seu relinchar parecia mais um canto aos seus ouvidos de Valentina. E quando o equino desaparecia na esquina a jovem voltava para a sua realidade, entrava em casa, e seu irmão ainda estava a dormir. Mais tarde, André se levantava com olheiras em volta dos olhos vermelhos, esfregando a cabeça sentindo como se não tivesse dormido. Sentava na mesa aguardando sua irmã servir a ele um café, e depois a menina pegava sua mochila, jogava sobre as costas e dirigia-se a escola. Porque tem que ser todos os dias assim? perguntava-se Valentina referente ao seu irmão trabalhar loucamente, enquanto chutava as pedras durante o seu caminho para o colégio. Ela entendia que a vida tem sido dura desde que seus pais morreram, porém, não suportava mais vê seu irmão envelhecer de tanto trabalhar sendo um jovem de vinte e cinco anos, e Valentina com apenas doze anos enxergava um lugar melhor, uma vida diferente, mesmo que André se irritasse com ela toda vez em que ela mencionava ir embora daquela casa. A menina nunca deixara de acreditar.
     
      A casa era a única herança deixada pelos os pais, e o trabalho de André era o que mantinha aquela casa, a vida de Valentina sempre foi tão humilde, havia dias em que a luz da casa era cortada , e outros a água.
- Deixe-me trabalhar, sei que irei ajudar.- Pediu Valentina ao seu irmão.
 -Valentina! Você tem que estudar, e não se preocupar com isso. - Recusou André ao seu pedido, e se sentou na cama tirando seus sapatos e arremessando-os para longe. Valentina no entanto não gostou de sua resposta, ele sempre dizia não para tudo. Escureceu seu rosto, abriu a boca mas não saiu uma só palavra , pois não queria dizer algo que mais tarde pudesse se arrepender. Virou-se e foi para o seu quarto, ajoelhou-se de frente a sua cama e mais uma vez repetiu a sua vontade para Deus. 
- Por favor papai do céu, faça com que meu irmão tenha esperança, e perca o medo de se arriscar. - Valentina era movida por essa fé que escondia dentro de seu coração como um tesouro, era o que lhe dava esperança para todas as manhãs . Deitou-se, e se ajeitou na cama que sem demora o sono repouso. 

   E na manhã seguinte, a menina despertou com o relinchar do cavalo, correu, para mais uma vez admirá-lo. Neste dia o equino estava perto de seu portão, ele comia cascas de melancia que Valentina havia deixado no chão na noite anterior e, então ela se aproximou devagar para não o espantar, chegou perto ergueu a mão para tocá-lo. 
- Você é ainda mais forte de perto, e é por isso que tenho sido forte também, você é minha inspiração. A diferença entre nós dois é a liberdade,você é livre e, eu nesta casa parece que eu vivo em uma prisão, não só eu, mas também meu irmão. - Falava com o cavalo enquanto deslizava sua mão na crina dele, como se tivesse falando com um humano. Depois o cavalo se foi. 
  E todas as manhãs a menina e o cavalo se encontravam diante do nascer do sol, às vezes ela dava a este cavalo algumas frutas e até mesmo capim que conseguira.
  
    Numa tarde, Valentina notara que não tinha frutas ou outro alimento para dá ao seu amigo cavalo na manhã seguinte. Seu irmão estava no sofá dormindo, neste dia era sua folga. E lhe sobreveio que na latinha em cima da geladeira continha algumas moedas que seu irmão guardou. Subiu em cima da cadeira para alcançar a latinha e apanhou as moedas, ela correu a uma quitanda e comprou alfaces e voltou correndo novamente, durante a sua volta não viu uma pedra a sua frente, tropeçou e caiu ao chão, ralando seus braços e joelhos, o alface ruiu sobre o solo cheio de areia. Sem se importar com a sua ferida que ardia muito, começou a recolher folha por folha do vegetal no chão, sacudindo o pó da areia. Levantou-se com o que sobrou do vegetal e retornou para a casa mancando.

Ao chegar, seu irmão estava a porta de braços cruzados, com seu rosto mais vermelho que um pimentão. Valentina respirou fundo, e sentiu sua barriga fria, não conseguia imaginar o que diria seu irmão ao descobrir o que fizera com as moedas e ainda ter seus braços e pernas raladas. 
- O que você fez ?! - vociferou André, soltando os braços mas barrando a porta da entrada. Deslizou seu olhar furiosa para os braços de Valentina. Respirou fundo. - Entrega este alface.
- Eu comprei para o cav…
- Não me interessa ! me entrega imediatamente! - berrou o irmão a ponto de fazer parar quem passava pela a rua. Ela entregou, o empurrou e entrou para dentro dirigindo-se ao seu quarto. 
André não contente, com passos pesados foi atrás dela
- Chega de cavalo, de dá nossa comida a ele. - Ele falava enquanto andava de um lado para o outro. - Você não imagina a minha preocupação Valentina. Você demorou para chegar. - Sua voz começou a ficar presa, e baixa. André começou a desfalecer, e então parou e colocou a mão no coração e jogou-se sentado em uma cadeira próximo a ele. Valentina levantou de sua cama em um salto, colocou-se de frente para o irmão e o chamava repetidas vezes, seus lábios estavam roxos e o rosto pálido. E aos poucos , ele foi retornando a cor normal, e o desespero de Valentina sendo abatido quando ele olhou para ela. 
- Eu estou bem. Não se preocupe. 
- Vou te preparar um chá. - Falou Valentina, ajudando-o a se levantar da cadeira.
- Não precisa. - Ele deu sorriso fraco a ela. - Só uma noite de sono me ajuda. 
Foi o que André torcia para que fosse, no entanto, ele acordou no outro dia pior, mais fraco e nunca havia lhe ocorrido isto. Mau conseguia se sentar. Valentina, correu para fora de casa e o cavalo não estava lá, olhou para os lados, correu até a esquina e não houve um sinal dele. Entrando de volta para a casa seu irmão ainda não saira do seu quarto, então ela foi vê-lo.
 Chegando no quarto ele ainda estava deitado, Valentina passou a mão em sua testa pálida e sua testa estava quente o suficiente para esquentar uma mão. Ela não entendia nada sobre febre ou como trata-la , porém sabia que não era um mal estar, André nunca na vida ficara de cama , sempre foi forte. E então a menina passou a cuidar de seu irmão que parecia nunca melhorar, a escola ligava todos os dias para perguntar da ausência de Valentina.
- Você tem que voltar para a escola. - Falou André com muito esforço e lábios roxos.
- Eu não vou te deixar sozinho, está louco?
    E meses passaram-se , Valentina se encontrava fraca em sua esperança, seu irmão melhorou um pouco mas não o suficiente para levantar da cama , a empresa em que André trabalhava não pode o segurar por muito tempo e então o demitiu. 

      Um cavalo voava abaixo da atmosfera. Asas grandes e fortes tinha em suas laterais, apesar de está voando tão alto Valentina o enxergava muito bem, contente sobrevoava de um lado para o outro, no entanto da terra pulou uma robusta hiena e, prendeu seus dentes no cavalo. Gemidos e choro saiu do cavalo, Valentina começou desesperadamente chorar e gritar. 
 Ela acordou com o sol ardendo em seus olhos, levantou-se respirando aceleradamente, deslizou a mão sobre a testa suada, e em seu corpo que estava lavado pelo suor. O pesadelo lhe fez acordar muito cedo, ela percebeu gotas de lágrimas em seu rosto, demorou para perceber que tudo não passava de um sonho ruim. Valentina foi para fora de casa no exato momento em que um homem passava em uma charrete guiado pelo um cavalo, e não demorou muito para a Valentina perceber que era o seu antigo amigo cavalo.
- Moço? o que fez com ele? - Ela correu em direção ao cavalo, observando que o brilho marrom dele se perdeu com lama sobre as pernas, sua crina cortada e seca, e o animal estava magro, só pode o reconhecer pelo corte no pescoço que tinha desde sempre. O homem a ignorou e continuou a caminhada, o cavalo olhou para ela e depois teve que prosseguir a chibatadas que o sujeito lhe batia.
  Ela entrou para a casa chorando, seu irmão a escutou e gritou por ela preocupado. Valentina correu para os braços do irmão, ele a abraçou e perguntou o que acontecera e ela lhe contou tudo. 

  Dias depois André observou que sua irmã não sorria mais, pouco falava e andava cabisbaixa pelo os cantos da casa. Ele estava se recuperando e logo poderia voltar a trabalhar, mas a tristeza de sua irmã o abalou a ponto de ir até o homem que prendera o cavalo.
 
- Por favor, lhe peço minha irmã está aflita, ela nunca foi tão triste quanto agora. - André implorava  para o homem que tinha parado do outro lado da rua com o cavalo. E o indivíduo rejeitava ao pedido de libertar o cavalo pois lhe era muito util.
- Façamos assim. Eu lhe dou a minha casa por este cavalo o que acha? - na tentativa de negociar lançou esta proposta absurda, até mesmo para um homem que esta perto.
- Com licença jovem. - Anunciou o outro homem.
- Está vendendo esta casa?
- Estou fazendo qualquer coisa para ter o sorriso da minha irmã outra vez senhor, ela ama este cavalo.
Este homem puxou-lhe pelo o braço distante do moço do cavalo.
- Posso lhe pagar pela a casa. O cavalo vale menos que esta casa. 
- Desculpe senhor, mas o que me importa agora é minha irmã feliz, faço de tudo por ela. E a propósito a casa é velha, creio que o senhor não vai gostar. - André tossiu tomando a boca.
 O homem coçou a cabeça, entortou a boca parecendo pensativo.
- Esta casa é tão importante para mim, quanto tua irmã é para você. - André franziu a testa não o entendendo.
- Meu jovem, essa casa é da geração antiga da minha família, sempre tive o interesse de comprá-la, mas nunca esteve a venda. Façamos um contrato da venda da sua casa para mim e você poderá comprar o cavalo. Você não estava disposto a abrir a mão da casa pelo o cavalo. Comigo você ainda terá dinheiro a mais, para se abrigar.
- Seria ótimo, mas por segurança façamos um contrato.
- De acordo. - Sorriu o homem, e André se alegrou.
Voltou para a casa , e Valentina estava em seu quarto deitada. 
  Mais tarde André negociou com o homem que era confiável e a casa estava vendida. No outro dia acordou cedo, procurou pelo o homem que prendera o cavalo, ele morava no mesmo bairro, da mesma forma negociou a compra do cavalo.
    Ao acordar Valentina escuta gritos euforico de seu irmão a lhe chamar, ela dispara para fora de casa e se depara com a cena que faz seu coração pular a ponto de senti-lo, seu rosto aquece em um calor vibrante e um sorriso deslumbrante se forma no rosto da jovem. O cavalo estava em seu quintal e olha-la, e seu irmão ao lado. Sem pressa, ela dirige-se ao cavalo, e o olhar do animal reflete grande gratidão e uma lágrima escorre em seu rosto.
- Obrigada. - Ela corre e abraça o seu irmão.
- Eu que agradeço. - Sussurra o jovem com o coração leve e ao contemplar a casa não sentia nenhum arrependimento ou pessimismo. Talvez fé seja assim, nos dá a certeza, pensou André.

    Valentina, André e o cavalo foram embora, andavam em direção para o sol daquela manhã , e o irmão sentiu pela a primeira vez que estava fazendo o certo, o seu trabalho e nem mesmo a casa iria mudar a sua vida se ele não mudasse a si mesmo. E então sorriu. Valentina de uma última olhada para a casa, o lugar que os prenderam por muito tempo, e nada mais será igual, sabia que agora seria feliz ao lado, mirou seu olhar para frente de cabeça erguida diante do nascer do sol. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Resenha: Para todos os garotos que já amei